E a sua relação com o smartphone, como vai? Arrisco dizer que anda em constante lua de mel. Também arrisco dizer que frequentemente, você tira seu smartphone do bolso de cinco em cinco minutos (senão menos) pra checar alguma coisa.
Mas ei cara, vamos lá, você sabe que não há notificações e nem nada de novo na tela principal. Mas mesmo assim, você vai lá, coloca sua senha e desbloqueia o device pra simplesmente, não ver N-A-D-A. Aí, coloca no bolso novamente e aguarda o novo ciclo. É, você já não admite mais ficar parado olhando para as pessoas. Já reparou? Onde fica a contemplação? E aquele respiro para a sua mente?
COMPORTAMENTO PADRÃO
Esse é o comportamento padrão da maioria de usuários de smartphones do planeta. Eu, você e seus amigos sabemos disso. E isso é algo muito sério. Falamos sobre frequentemente mas raramente tomamos alguma atitude. Simplesmente porque agimos por impulso e porque o smartphone é o novo cigarro. Smartphones são como a nicotina: você já deve ter pensado em maneirar o uso, mas sempre adia e tem plena consciência que a vida pode ter mais qualidade sem ele/ela.
Ok, você pode até achar que eu estou exagerando. Que estou aqui de #mimimi. Que sou contra os smartphones, a mobilidade e toda essa nova realidade. Não, eu não sou contra. Mas acredito na moderação. Pensa comigo: quantos happy hours que você foi recentemente e a metade das pessoas, pelo menos, ficava chegando notificações e tirando fotos pra compartilhar no instagram com aquele filtro maneiro? E o danado do Whatsapp? Esse simplesmente tem tornado as reuniões em empresas ainda mais tediosas do que sempre foram. O Whatsapp tem roubado a atenção das pessoas em reuniões importantes.
Peraí, também não precisa exagerar. Calma, tem jeito pra tudo!
Precisamos mesmo estar conectados 100% do nosso tempo? Precisamos ler o feed de notícias do Facebook pra ficar “por dentro”? Peraí, por dentro de que? Do último meme? Da última piada? Do último melhor vídeo das últimas duas horas, que todo mundo vai esquecer nos próximos 5 minutos? Aí alguém vem te perguntar sobre esse vídeo que, por algum motivo você não assistiu, e você responde que ainda não viu. O cara vai pensar: “Ih, esse aí tá por fora”. Aí você vai lá e posta um vídeo que achou super engraçado. Chega o hypster poser e dizer: “OLD. Só agora você viu isso?”. E daí que só agora eu vi isso? Tem prazo de validade agora? O vídeo deixa de ser vídeo depois que “todo mundo” vê?
A PULVERIZAÇÃO DA ATENÇÃO
E por aí vai. Toda essa onda de hiperconexão tem feito também com que simplesmente passássemos a encarar a música como algo descartável. Já reparou? Primeiramente, hoje ouvimos música no metrô e em meio ao trânsito, sempre competindo com muito barulho. E quando você começa a ouvir o novo álbum do seu artista predileto e mesmo assim sente que precisa checar as notificações no smartphone? Você nem se deu conta e já se passaram três músicas incríveis que você mal ouviu. Mas sabe muito bem qual foi o último tweet do seu amigo, que falava sobre o “Rei do camarote” ou até mesmo de um meme do 9GAG.
Nossa atenção está cada vez menos concentrada e cada vez mais pulverizada. Isso tem gerado uma ansiedade absurda nas pessoas, criando uma geração que simplesmente não consegue mais apreciar nada que não tenha intervenção do smartphone. Pra tudo é necessário tirar foto. Seja da comida, do barzinho, do casalzinho. Tem que mostrar, tem que compartilhar, tem que ganhar likes, likes e mais likes. É a geração que anseia por atenção desesperadamente, sem dar valor a coisas mais sutis. Querem saber de tudo, mas esse saber tem a profundidade de um pires, pois “não há tempo” para ler mais sobre aquilo.
Já reparou que quando você fica sem internet em casa várias coisas acontecem e que quando você está com a internet menos coisas acontecem? A sensação é de que as outras pessoas estão vivendo 1001 experiências e você não. Quando você está sem internet, você procura ler um livro, assistir a um filme, ir pra rua andar com o cachorro, ligar para alguém, fazer uma comida especial, ouvir música em alto e bom som e acaba até descobrindo que era um bom desenhista e não sabia. As pessoas passam a conversar mais.
Quando você tem internet, é mais fácil ficar no Facebook do que fazer qualquer uma das coisas que mencionei aí em cima. Tudo parece trabalhoso demais quando você está no Facebook. Não me entenda mal. Tudo que estou escrevendo aqui é baseado em depoimentos de muita gente no dia a dia e em percepção das pessoas que estão a minha volta, sejam amigos ou pessoas que estão dividindo o mesmo vagão do metrô comigo. Eu nunca fui muito fã do Facebook. Sempre fui fã de agregadores de notícias, esse sim, meu ópio, minha nicotina.
O PODER DA CONTEMPLAÇÃO
E se começarmos a contemplar mais? Observar mais. que tal escutar aquele disco novo mais de uma vez, dando a chance de ele nos conquistar realmente? Vamos ouvir música em casa, com volume alto. Vamos deixar um pouco os fones de ouvido de lado e dar mais valor aos graves e as sutilezas sonoras. Música gosta de ser ouvida. Dedique tempo a ela. Ela vai te pagar com estado de espírito
E que tal deixar de lado também aquele blip da notificação do smartphone quando você está lendo um livro. Ele vai fazer com que você perca o fio da meada e, na sequência, largue o livro para talvez, nunca mais voltar a lê-lo. Ignore a notificação. Se for importante, vão te ligar. Deixe de lado a vibração do celular quando você está no cinema. Cinema é pra contemplar. Não ligue o celular. Aquela luzinha branca incomoda. Sempre há gente apreciando o filme e isso estraga a imersão.
Dê tempo para o seu cérebro. Já reparou que todo mundo quer postar a sua opinião o mais rápido possível sobre algo que acabou de acontecer? Isso acontece não só porque as pessoas estão ávidas por atenção, mas porque não conseguem dar tempo para elas mesmo formarem uma opinião, já que “não há tempo” para ler a notícia de diversas fontes. Se demorar muito pra falar, o assunto esfria. Dá menos “likes”. Onde fica o engajamento?